20.6.05

Pesadelo Prosaico

Doutor,

como prometido em nossa última sessão, aqui está uma descrição menos balbuciante de meu sonho (a fala seria uma forma perfeita de comunicação, caso houvesse uma tecla BackSpace):

Estava ela na minha frente. Não Ela, mas uma mulher genérica. Uma mistura de todas as mulheres que conheço ou conheci. Tenho certeza que minha mãe estava lá (pausa para duas piruetas suas, seu freudiano de merda!). Ela estava vestida. Não me peça para descrever, porque não saberia. E não interessa. O importante é que ela estava vestida. E eu nu.

Meu pau estava duro, numa ereção grotesca. Músculo, prepúcio, cabeçorra e veias pulsando assustadoramente, como um alienígena preso à minha virilha. Tinha vida própria. E eu era apenas a extensão de sua existência, a base com pernas que o locomovia, impedindo-o de ser um pau duro prostrado.

Ela olhava para ele, e sorria. Meio excitada, meio histérica, totalmente assustadora. De novo, não tinha nada a ver com a risada d'Ela. Não era escárnio. Não era desprezo. Era uma risada de antecipação. Ela QUERIA ser arrombada por aquela criatura cilíndrica de carne. Queria sentir suas entranhas preenchidas por ela, recebendo seus sucos no colo de seu útero, beijá-lo e engoli-lo com seus grandes lábios.

De repente ela estava nua. E a ereção se tornou dolorosa. Comecei a gritar quando ela tocou meu membro com seus dedos (unhas compridas, pintadas de vermelho. Clichê, não?). E eu não estava mais a fim. Estava doendo demais. Mas eu era um escravo daquele monstro. Eu não tinha vontade própria. E ele cresceu ainda mais.

E ela riu. Sua boca abriu num ângulo antinatural, como a de uma jobóia, e abocanhou meu pau como se fosse um bezerro. Sua cabeça se deformou inteira graças a isso. Sua expressão multifacetada se tornou uma caricauta, um arremedo humano, uma paródia com olhos injetados. E ela sugou avidamente. E eu já não tinha mais controle nenhum. A dor era imensa, mas a excitação também. Senti nojo de mim mesmo por me excitar com aquilo, mas como já disse, não tinha controle.

De repente a sucção parou. Ela retirou a boca, mas sua cabeça manteve a deformação, como se meu pau tivesse alargado seu crânio irremediavelmente. E ela veio, lentamente, lambendo meu corpo. E eu tremia. Quando sua imensa cabeça enluarada e disforme se aproximou de meu rosto, eu sabia o que aconteceria. A boca escancarou-se, mostrando uma mistura de saliva e secreções penianas pré-ejaculação. A língua era uma pústula verruguenta, e dançava ávida entre seus dentes. Aquela boca cobriu a minha cabeça inteiramente, e a língua pincelava meu rosto. Senti ânsias. Senti nojo.

Fiquei mais excitado.

Meu pau já estava maior que eu. Ele pulsava como um imenso coração, cuspindo porra de seu ventrículo encefálico. Ela tirou a língua, e me envolveu em seus peitos imensos. Eu, lambuzado de saliva, escorregava para cima e para baixo. Tentei me livrar daquele esmagamento, mas meus braços eram pequenos e inúteis como os de um tiranossauro. Tentei curvar o corpo, mas meus músculos estavam rijos e tensos demais.

Subitamente ela me libertou. Abri os olhos, apenas para ver que eu já não era mais um homem com pênis. Era um pênis com homem. E meus braços haviam sido transferidos para ele, que agarrou a mulher e puxou-a para si. Vi sua buceta imensa e alagada de secreções se abrir. Mais rápido do que eu pudesse imaginar, fui envolvido por ela.

Caos completo. Vai-e-Vêm na escuridão absoluta. Claustrofobia e afogamento.

Um choque elétrico percorreu todo meu corpo.

Não agüentando mais, vomitei.

Porra.

Foi quando eu acordei. Suado, gozado e tremendo.

Pronto, doutor, mais material para sua tese.

Divirta-se.

13.6.05

Interlúdios Noturnos

Eu sentei no canto da cama. Era madrugada. Estava quente. Tirei a cueca empapada de suores e sucos penianos. Sonho pornográfico, como sempre. Peguei meu pau novamente flácido e sorri para ele, que, exausto, ameaçava se esconder na mata pubiana de minha virilha.

A janela estava aberta, e o ar frio da noite poluída invadia minha privacidade. Gostaria de dizer que apenas as estrelas e a lua haviam sido as testemunhas de minha polução e de minha nudez, mas estaria sendo desnecessariamente poético. Mesmo porque não havia lua nem estrelas no céu poluído. Não, ninguém havia presenciado meu tesão noturno. Nem mesmo eu, que na verdade já esquecia o sonho como se ele fosse apenas uma névoa de bituca em meu cérebro. Não que fizesse diferença, era mais um sonho, como tantos outros.

Meu corpo estava amortecido o suficiente para que eu não pensasse nele. Minha boca entreaberta não dizia palavra. Estava seca como minha alma perdida. Meus olhos estavam tão remelentos que era uma esforço mantê-los abertos, mas em meu torpor não me importei. Era um cadáver insone.

Sem razão aparente, caí num choro agoniado. Apenas meu rosto se franziu com o irromper das lágrimas. O corpo permaneceu imóvel, exceto pelos espasmos pulmonares necessários para emitir gemidos angustiados. Não queria cobrir meu rosto. Não tinha vergonha de minhas lágrimas, pelo contrário, queria espalhá-las ao mundo, como uma chuva de canivetes agridoces. Queria que cada alma, cada condenado, cada filho da puta desse mundo recebesse uma gota dela. Que as ruas se inudassem de minha tristeza sem nome ou razão, mas nem mesmo consegui inundar meu próprio colo.

As lágrimas secaram, mas eu insisti no choro seco. Com a unha do polegar apertei a pele branca de minha coxa, até que ela se rompesse e o sangue fluísse. A dor foi excruciante, maldita, divina, libertadora. As lágrimas voltaram a correr por alguns segundos, mais pela dor física do que emocional, mas secaram novamente logo em seguida.

Espalhei o sangue que escorria pela perna. Era pouco, mas suficiente para tingir minha pele com um tom inicialmente róseo, e depois escarlate coagulado. Com a mão ainda suja usei-o como tinta para uma máscara de palhaço. Pintei cruzes sobre meus olhos, e um grande sorriso sangrento emoldurando minha boca.

O sangue parou de jorrar pela ferida. Era superficial e insignificante como minha angústia sem objetivo. Ergui-me.

Deixei o vento noturno lamber meu corpo, secando suor, sangue, lágrimas e porra numa casca impenetrável, uma armadura biológica para quaisquer males que venham de fora. Era minha concha, minha carapaça, minha crisálida com cara de palhaço. E eu era um Louva a Deus ateu, esperando a decapitação pós-coito que nunca virá.

Doutor, eu odeio o dia dos namorados.

6.6.05

Matinais

Sabe, doutor...

Você não sabe nada.

Eu não sei se você sabe que não sabe nada, ou somente é um ser safardana que só se sai sem sutilezas.

Hoje estou cheio de esses.

E efes.

Foda-se o fodido do fulambento do falsário que ferrou a fumbica do fumeta.

A vida é um sufixo lento e repetitivo, sem artigos ou preposições.

Sem sentido? Foi foda.

Você entendeu?

Eu não tenho remédio.

Apenas frases ambíguas.

Quer saber?

Estuda.