Doutor,
o que move a criação? O que nos leva para a frente de um computador (tela, caderno, monte de argila) e nos faz querer transformar a tela em branco (ou a massa disforme) em algo a ser lido (visto, apreciado, criticado)?
Será uma urgência egomaníaca descontrolada, uma necessidade irrefreada por um espelho de Narciso? Queremos ser recebidos com latidos delirantes de uma cachorro estúpido que nos amará mesmo que o desprezemos?
É isso que leitores (admiradores, críticos) são. Uma matilha desenfreada de cachorros excessivamente carentes, que enxergam em seus donos um reflexo aperfeiçoado de si mesmo. Uma idolatria exacerbada, uma covardia inerentemente amaldiçoada em sua grandeza frente a nossa pequenez, apesar dessa última constatação não significar absolutamente nada, e eu apenas tê-la escrito para exercitar um vocabulário rebuscado. Mesmo assim pode ser citada como referência ou constatação de minha genialidade pseudo-parnasiana. Ou não. Voltemos ao tópico.
Por que buscamos ídolos, heróis ou modelos? Para que nos interessa saber com que papel higiênico eles limpam a bunda? O que nos motiva a gozar com seus paus e bocetas? O que faz deles melhores que nós? E até que ponto o que fazemos é importante para alguém? Digo REALMENTE importante?
Há quem diga que somos (são) endeusados por conta da divinização da criação. Uma pessoa comum, nascida de um pecado e parida com sangue e excreções, que consegue, num momento de inspiração (divina? metafísica? espasmódica?) criar algo a partir do nada que será digerido por outrem (!), e em seguida este digestor achará que tem o direito de emitir uma opinião a este respeito, mesmo que esta opinião simplesmente não acrescente ou deturpe absolutamente nada. Como se pedíssemos por isso!
E não pedimos? É claro que pedimos! Senão por que caralho produziríamos tal coisa, tal criação, tal qualquer-porra-que-se-diga-arte? Somos súcubos de atenção. Somos tão cachorros carentes quanto eles. Queremos ser chupados em nossas bolas cabeludas quando fazemos algum truque novo. Queremos ser cuspidos em nossas caras de pau quando fazemos algo horrendo, fedido. Falem mal, mas falem de mim! Não me ignorem, cabada de lambedores de cu! Amo vocês, mesmo odiando o que vocês dizem. Odeio vocês até a última geração, mas sou voltairiano convicto, e dou minha vida para que vocês tenham o direito de falar. Até merda. Aliás, se eu escrevo merda, que direito tenho em querer coisa diferente. Caguem em minha cabeça, cambada de putos!
Às vezes acho que só você, doutor, realmente me lê com um motivo sincero. Você me lê por obrigação, por ser parte de sua profissão. Caralho, você GANHA para me ler. O resto não. O resto só espera que eu, em um momento qualquer, destile algum comentário ou pensamento que ligará algum sentimento latente em suas cabeças de ampola. São órfãos cerebrais, parasitas neuróticos buscando eternamente massas cinzentas alheias para sugar. Querem que eu descreva minha realidade, ou para se sentirem superiores, ou para não se sentirem únicos, ou para simplesmente dar risada da escatologia alheia.
Pois então, chupem minha pica! Com gosto.
Mas depois me contem se foi bom.
Doutor, tarja preta significa remédio com vergonha da própria nudez?
Ou é algo simplesmente censurável?
Pensa nisso.
19.6.06
Comenta ISSO, filho da puta!
Esporrado por Zebedeu às 13:15
Assinar:
Comment Feed (RSS)
|