16.10.06

3.10.06

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Doutor,

eu tinha acabado de sentar na poltrona do cinema. Tentava me ajeitar quando ela sentou do meu lado. Sorriu. Sorrimos.

- Quer pipoca?

- Não, eu...

- Shiu, vão começar os trailers!

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- Gostou do filme?

- Achei uma merda. Excremento puro. Baita enrolação! Deu vontade de estrangular o diretor com as tripas do roteirista.

- Hum, eu até gostei...

- Você não pode estar falando sério! Esse lixo?

- É.

- Qual é o teu nome?

- Zebedeu.

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Ela se chamava Lia. Assim, só três letras. Não precisava mais do que isso para defini-la. As redundâncias de seu caráter eram irrelevantes. Sem idiossincrasias desnecessárias. Sabia o que queria e não gostava de perder tempo.

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Bem que tentamos chegar até meu apartamento, mas acabamos trepando na escada mesmo, graças ao elevador quebrado. Ela não conseguiu agüentar. Nem deu tempo de tirar toda a roupa. Foi uma rapidinha bem meia-boca. Mas ela gozou.

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- Alô.

- Oi.

- Oi! Eu ia te...

- Vamos encher a cara?

- Como é?

- Preciso ficar bêbada. Vamos?

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Nem bem tínhamos chegado e já foram quatro tequilas pra conta. Duas para cada um. Ela se soltou. Me puxou e me deu um beijo alcoolizado. Pra variar, fiquei de pau duro. Ela riu. Brincou com uma menina na mesa do lado, usando meu estado como de objeto de inveja. E riu quando ruborizei. Pediu mais uma tequila. Implorei para acompanhá-la.

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O quarto girava em sentido oposto ao dela. Estava difícil ficar de pé. Sentei na borda da cama. Ela veio dançando e sentou no meu colo.

- Sabe de uma coisa?

- Não.

- Sabe sim.

- Sei nada...

- Sabe. Sabe que eu te amo, não sabe?

Pior que sabia.

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- Porra, fecha essa porta!

- Ué, qual o problema?

- Coisa mais broxante ver mulher cagando!

- Ué, pra enfiar a cara na minha buceta você não reclama...

- Caralho, que nojo!

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Bêbada de novo. Foi sozinha. Não estava mais com saco para aquilo. Tinha que trabalhar no dia seguinte. Amparei-a antes que caísse.

- Você não me ama!

- Não fala merda. Vem, vou te dar um banho...

- Não! Não quero! Vou embora!

- Lia...

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Seus joelhos miravam o teto, minha cara enfiada na junção de suas coxas. Que cheiro bom, que delícia! Molhadinha. Minha língua percorria cada canto. Me perdi naquele fosso de carne quente e úmida, aberto, escancarado para mim. Tanto que não percebi que ela chorava.

Acordei sozinho.

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Ela não apareceu o dia inteiro. Nem de noite. Não dormi.

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A porta estava aberta quando cheguei. Vi seus tornozelos esticados balançando como os de um judas ao vento no meio da sala, a cabeça tombada sobre um dos ombros, a corda no pescoço sustentando o corpo inteiro no ar. Estava cinza e fria. Olhos esbugalhados, língua azul. Mas continuava linda.

Em cima da mesa um bilhete: "Sua culpa".

Fui embora. Deixei a porta aberta para que os vizinhos encontrassem seu corpo. Mas levei o bilhete comigo.

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Quando cheguei em casa preguei o bilhete na geladeira. Reli (Re-Lia?) umas duzentas vezes e então corri para o banheiro e vomitei.

De porta aberta.

Cara, que semana!