28.9.07

Dúvida


Doutor,

por que as melhores coisas na vida

são efêmeras?

(Curto o suficiente para a senhorita, Dafne?)

20.9.07

Reencontro

Doutor,

estava eu retornando calmamente de meu novo emprego, às 23hs (ou seja, cedo) quando me deparo com o hall de entrada do prédio completamente às escuras. Tinha alguém por lá, um vulto indecifrável, que podia tanto ser a simpática velhinha do sexto andar quanto um corongo africano prestes a me matar e sugar o tutano de meus ossos. E o elevador estava longe. Você bem conhece minha faceta paranóica e então consegue imaginar como ficou minha cabeça naquele momento. Décimo terceiro, décimo segundo... Porra de elevador demorado!

- Será que queimou a lâmpada?

O vulto não respondeu, talvez fazendo pilhérias mentais de minha ignorância em circuitos elétricos prediais. Me deu vontade de retornar ao carro e dormir lá mesmo. Dane-se meu ciático. Melhor dolorido do que morto por um assassino que eu nem tinha visto a face. Nono, oitavo... E se eu acendesse meu isqueiro? Trechos de filmes de terror ruins passaram a milhão em minha memória. O assassino sempre atacava quando alguém conseguia acender alguma luz, juntamente com um acorde estridente da trilha sonora e um corte rápido para outra cena que nada tinha a ver com nada. Melhor não arriscar. Morrer já era uma péssima idéia, mas morrer num clichê era pior ainda. Quarto, terceiro... Porque o vulto não falava nada? Qualquer coisa, nem que fosse pra quebrar o gelo. Conversa de elevador mesmo. Fala do tempo, faz uma piadinha sem graça, qualquer coisa! Primeiro, térreo, finalmente!

Quando a luz interna do elevador incidiu sobre a figura misteriosa eu percebi que teria sido melhor se ela fosse um maldito corongo-chupador-de-tutano. Quem apareceu, em toda sua graça e plenitude, foi a maluca que havia vandalizado meu apê naquele dia fatídico. Ela mesma, doutor, a destruidora de aquários, a pirada que tive que escoltar para o hospital numa viatura de polícia. Eu sei que você se lembra da história.

Ela entrou. Pensei seriamente em não segui-la, mas por alguma razão inexplicável entrei. Ela apertou o botão do segundo andar, eu apertei o meu. Fiquei quieto, Se desse sorte ela não me reconheceria, tão lesada ela estava aquele dia. Claro que não dei sorte.

- Ei! - gritou ela, me apontando. - Você!

Bati as costas na parede do elevador com o susto. Fodeu! Não tenho pra onde fugir! Ela continuava me olhando com aqueles olhos insanos, aquele dedo gorducho em riste na direção de meu nariz. Pensa, Zebedeu, pensa! Ela se aproximou. Não me mata!

- Olha - começou ela - você me desculpe por aquele dia, hein? Você sabe, eu tenho uns problemas...

Respondi a primeira coisa que me deu na cabeça.

- Tá tudo bem...

Bem o caralho, sua puta! Graças a você tive um dos piores dias de minha vida! Eu devia te estrangular agora! Eu devia...

A porta se abriu. Ela pediu licença e saiu. Da porta de seu apartamento ela ainda me mostrou sua bolsa, que tinha escrito "Psicologia" em letras garrafais em um dos lados.

- Eu faço Psicologia - explicou o óbvio. - E você sabe como é, né? Quem faz psicologia...

Calou-se, talvez se dando conta do que estava quase assumindo. Não me fiz de rogado e complementei seu raciocínio:

- Tem mais é que ser louco mesmo. Entendi. Passar bem.

Antes que ela conseguisse retrucar a porta do elevador se fechou, elevando-me.

É por isso que mandei trocar a fechadura de casa, doutor. Saiu caro mas confesso que valeu a pena.

Ah, se valeu...

10.9.07

Retrato de um fornicador quando macho

Doutor,

era noite de baladinha inconseqüente. Sim, eu ainda faço isso. Saio para encher a cara e rir da mediocridade alheia. Escapismo etílico, e daí? É uma tradição humana. Dez mil anos de porres homéricos não podem estar tão errados. Temos mais é que queimar mais uma dúzia de Persépolis.

A balada em si foi meia boca. Banda ao vivo tocando músicas aos mortos pasteurizados e bem arrumados. Eu, lá no meio, como uma verruga cabeluda no meio do nariz da top model. Ninguém assume mas todos estão lá apenas por causa do sexo. EU estava lá por causa de sexo. Nem no escapismo abdicamos de nossos desejos mais primitivos. Só os rotulamos como algo "social" para evitar que cada um cheire o rabo do outro no meio da pista. Mas é quase isso.

Um amigo meu dá uma sorte daquelas e cola numa loirinha. Cinco minutos de papo e já estão se esfregando como bichos-preguiça com epilepsia. Sobra uma amiga. Morena, peitão, bundão, linda, linda. A matemática é mais rápida que meu raciocínio. Tudo muito certo. Não era possível. O que está acontecendo?

Resumindo a história: uma hora de papo desperdiçado e ela beija outro.

Frustrado e com desejo de invadir o palco para quebrar a guitarra na cabeça do vocalista, decido comprar uma cerveja. No caminho encontro o Palito. "Preciso da tua ajuda". Manda. "Olha lá", e aponta para os escarros do demo. 'Cê tá brincando? "Não. Vamo lá que sozinho eu não encaro".

Fazer o quê?

Com ele foi rápido. Chegou, colou e beijou. Deu nojo. Olhei para a outra. Feia como encoxar a avó no tanque. Chata e desagradável como uma pizza estragada esquecida no fundo da geladeira. Braços cruzados. Cara de chupar limão. Me olhou com aquela cara de "E aí? Qual o xaveco que eu vou rechaçar agora?". Como se tivesse alguma moral pra esnobar. Mandei tomar no cu antes mesmo de dar oi. Só me faltava tentar convencer dragão a me dar um beijo. Sei que não sou nada demais, mas péra lá! Tudo tem limite. Desisti e fui pra minha cerveja.

Fim da balada, todos na rua. O Palito já tinha se livrado da mina e tava com fome. Hora do dogão. Mas ele precisava comprar cigarro. Fui agilizar o esquema do rango, pois minha tolerância a pessoas já estava no limite e eu queria ir logo pra casa. Chego lá e reencontro as recepcionistas do inferno. É, doutor, as mesmas. A mina que o Palito beijou me dá um cutucão assim que me vê.

- Vacilão!

- Ei, vai se foder!

- Fiquei te paquerando a noite toda e você nem me deu bola. Tive que beijar seu amigo.

- Problema seu! Cada uma que me arrumam...

- Vem cá, vem...

Não sei se por causa da frustração por causa da morena ou por completa falta de noção, fui lá e beijei. Na hora me arrependi. Nossa, o que foi que eu fiz? Assim, na frente de todo mundo? Eu REALMENTE tinha achado meu pau no lixo?

Claro que o Palito chegou naquela hora. Foram dois segundos de perplexidade e em seguida ele já estava em movimento. Colou na mocréia azeda e beijou. O Palito é um cara corajoso. Gosta de mulher mesmo. Não interessa qual. É algo a ser respeitado. Postumamente até.

O que aconteceu em seguida ficou meio nebuloso. Vamos pra casa? A minha ou a sua? A minha. Vamos. Pra dela. Meu, eu tô cansado... Vamos nessa! Fomos.

Boca do lixo. Não tenho outra maneira de descrever o lugar. O Palito, que estava dirigindo, desistiu assim que viu a bocada que ele ia ter que deixar o carro dele. Não, véio, tô fora. Eu já tinha decidido ir às vias de fato de qualquer jeito. Se for só pra beijar aquela tranqueira eu sairia no prejuízo. Fiquei. Ele foi embora. A Azeda fez um bico enrugado. Nem olha pra mim que já vai ser dureza ficar de pau duro com tua amiga! Se você se juntar não sobe nem fodendo! Grosso! Entramos.

Alvoroço. Elas começam a se ajeitar pra uma dormir e a outra trepar. O arrependimento aumentou desde o momento que entrei naquele pulgueiro travestido de apê. A bebedeira tava baixando. Pedi uma cerveja. Ela deu e eu bebi mais rápido do que deveria. Quase gorfei no tapete vagabundo. Hora do sexo. Tirei a blusa dela e levei um puta susto. Seus peitos tinham aquelas cicatrizes de plástica malfeita. Não hora a palavra "traveco!" gritou na minha mente. Pior que podia ser. E se fosse? Eu mataria as duas. Na paulada. Homicídio completamente justificável. Mas felizmente não era. Ufa! Ela me explicou que eram de uma cirurgia de redução de seios. Eca! Não precisava explicar! A imagem daquilo com os peitos murchos quase me fez fugir gritando. Chega de papo. Botei a camisinha, tuque-tuque e boa noite. Só isso? De manhã tem mais. Agora cala a boca e dorme. Obedeceu. Hora de fugir.

Já sei o que você deve estar pensando doutor, e quero que se foda. Ela já era horrenda toda maquiada e produzida. Imagina ela acordando? Não ia dar. Não sou o Palito. Esgueirei pra fora da cama. Demorei uns cinco minutos só pra tirar meu braço de baixo da sua cabeça sem acordá-la. Consegui. Recolhi minhas roupas no chão e me vesti no banheiro, logo depois de dar uma bela mijada. Catei dez mangos da bolsa dela, além de meio maço de cigarros. Saiu barato, fofa! Ah, se saiu. Você nem imagina quanto. Passei perto da cama e a porca roncava como uma motosserra. Queria ter algum objeto pesado pra esmagar aquela cabeça de uma só vez. Pra evitar que outro bêbado incauto caísse naquela armadilha. Melhor não. A outra poderia acordar e eu teria que matá-la também. Podia dar merda. Melhor só sair mesmo.

Na sala a Azeda dormia de boca aberta. Parecia um cadáver atropelado. Tive que me controlar para que a impressão não se tornasse fato. Calma, Zebedeu, não vale a pena se enrolar por tão pouco. Passei por cima dela na sala apertada, torcendo para que não acordasse, e saí pela porta da frente. Doze andares depois estava no térreo. Consegui! Agora some e não volta nunca mais pra esse lugar, Zebedeu! Testei a porta da frente do prédio. Trancada. Do lado da porta tinha um interruptor para abertura. Quebrado. Eu estava preso!

Doutor, o senhor não imagina o grau de meu desespero naquele momento. Não podia simplesmente voltar pro apartamento das morféticas porque se voltasse ia ser uma chacina. Daquelas. Não podia ir embora por razões óbvias. Eu estava preso num limbo no meio da boca do lixo. No meio da noite.

Sem opções sentei no chão e fiquei esperando alguém aparecer e abrir a porta. Só aconteceu às oito da manhã, quando eu já estava dormindo e com a bunda quadrada de ficar sentado no piso frio. Uma velhinha chegou e abriu a porta. Fingi uma educação que não tenho e segurei pra ela a porta aberta.

- Perdeu a chave, meu filho?

- Hã, não. Eu tava na casa de umas amigas...

A expressão da velha se transformou de simpática para julgadora em milésimos de segundo. Dava pra imaginar claramente ela me chamando de "fornicador de putas da babilônia!". Não que estivesse tão longe da verdade. Além do mais ela devia conhecer bem as vizinhas que tinha. Não que isso justificasse aquele preconceito. Mas se tem uma coisa que eu não consigo ter raiva é de velhinhas. O doutor que explique o motivo. Pergunta pro teu amigo, o tal do Freud!

Mas o que importa é que eu tinha conseguido sair. O sol de domingo já ia alto. O metrô era perto. Mas antes de completar minha fuga parei numa padoca do lado do prédio e tomei um café com pão na chapa. Você acha que eu roubei os dez reais pra que? Comprei também um cigarro decente e fui na direção do metrô, me achando um merda, um idiota, um porra dum viciado em sexo sem escrúpulos. Pouco antes de chegar no metrô vomitei o café e o pão na calçada. Alguém riu. Ignorei e entrei no metrô com a boca ainda com gosto de bílis. Uma hora depois estava em casa. Fim do relato.

Por que a gente faz isso, doutor? É uma forma de auto punição? Ou apenas porque podemos?

Ainda não sei. Mas vou continuar fazendo até mesmo depois de saber a resposta.

Então foda-se.

6.9.07

Na ausência de um título criativo, qualquer merda serve.

Doutor,

eu sei que você e os malditos curiosos que estranhamente teimam em ler estes textos mal redigidos estão se perguntando por onde ando, mas como sempre não vou me alongar em explicações que sinceramente não interessam a ninguém. Escrevo nessa merda quando quiser e vocês não tem nada que ficar me cobrando. Vão tomar no cu. Apaguem meu endereço de sua lista de favoritos. Descadastrem o RSS. Quero que se foda. Não estou aqui para angariar cliques ou simpatias. Contentem-se com suas próprias vidas medíocres e me deixem em paz!

O lance é que nas últimas semanas minha vida deu uma série de giros. Mudei de casa, mudei de emprego, mudei de sexo... Não, espera, esse último ainda não rolou. Acho que não. Tomara que não. Mijar sentado é deprimente. A menos que se esteja de pau duro e seja o dia seguinte da faxina. Não entendeu? Então você nunca morou sozinho. Ou foi casado. Ou ficou de pau duro.

Sim, esse texto não é sobre nada. Não é o primeiro, não vai ser o último. Já disse que quero que se foda?

Atualmente anda numa fase de "angariar experiências". Não, ainda não dei o rabo, doutor, não se empolgue. Mas tenho passado mais tempo fora de casa do que dentro. Meu apê se tornou quase uma pensão. Só falta uma tia velha e verruguenta fedendo a gatos.

Não, doutor, eu também não fiz o que tinha prometido no texto anterior. Se fizesse teria que mudar o título do blog, sacumé. Maior preguiça. E também não acho que a conexão do presídio seja muito boa.

Não, doutor, eu não tô nada melhor. É só aparência. É só endorfina colorida artificialmente sabor baunilha. Daqui a pouco passa. Sempre que me vejo sorrindo entro aqui e lembro o quanto a humanidade é deprimente. Recomendo, doutor. Melhor que seus sermões de auto-ajuda de pobre.

Bom, como meu alter-ego já disse, a partir de agora os textos serão mais curtos. Mas vou tentar escrever mais freqüentemente. Não espere muito pois isso não é uma promessa. É mais um profilático nessa minha vida placebo.

Ah, e antes que eu me esqueça: Pau no seu cu, doutor.

Sei que estava sentindo falta disso.