13.6.05

Interlúdios Noturnos

Eu sentei no canto da cama. Era madrugada. Estava quente. Tirei a cueca empapada de suores e sucos penianos. Sonho pornográfico, como sempre. Peguei meu pau novamente flácido e sorri para ele, que, exausto, ameaçava se esconder na mata pubiana de minha virilha.

A janela estava aberta, e o ar frio da noite poluída invadia minha privacidade. Gostaria de dizer que apenas as estrelas e a lua haviam sido as testemunhas de minha polução e de minha nudez, mas estaria sendo desnecessariamente poético. Mesmo porque não havia lua nem estrelas no céu poluído. Não, ninguém havia presenciado meu tesão noturno. Nem mesmo eu, que na verdade já esquecia o sonho como se ele fosse apenas uma névoa de bituca em meu cérebro. Não que fizesse diferença, era mais um sonho, como tantos outros.

Meu corpo estava amortecido o suficiente para que eu não pensasse nele. Minha boca entreaberta não dizia palavra. Estava seca como minha alma perdida. Meus olhos estavam tão remelentos que era uma esforço mantê-los abertos, mas em meu torpor não me importei. Era um cadáver insone.

Sem razão aparente, caí num choro agoniado. Apenas meu rosto se franziu com o irromper das lágrimas. O corpo permaneceu imóvel, exceto pelos espasmos pulmonares necessários para emitir gemidos angustiados. Não queria cobrir meu rosto. Não tinha vergonha de minhas lágrimas, pelo contrário, queria espalhá-las ao mundo, como uma chuva de canivetes agridoces. Queria que cada alma, cada condenado, cada filho da puta desse mundo recebesse uma gota dela. Que as ruas se inudassem de minha tristeza sem nome ou razão, mas nem mesmo consegui inundar meu próprio colo.

As lágrimas secaram, mas eu insisti no choro seco. Com a unha do polegar apertei a pele branca de minha coxa, até que ela se rompesse e o sangue fluísse. A dor foi excruciante, maldita, divina, libertadora. As lágrimas voltaram a correr por alguns segundos, mais pela dor física do que emocional, mas secaram novamente logo em seguida.

Espalhei o sangue que escorria pela perna. Era pouco, mas suficiente para tingir minha pele com um tom inicialmente róseo, e depois escarlate coagulado. Com a mão ainda suja usei-o como tinta para uma máscara de palhaço. Pintei cruzes sobre meus olhos, e um grande sorriso sangrento emoldurando minha boca.

O sangue parou de jorrar pela ferida. Era superficial e insignificante como minha angústia sem objetivo. Ergui-me.

Deixei o vento noturno lamber meu corpo, secando suor, sangue, lágrimas e porra numa casca impenetrável, uma armadura biológica para quaisquer males que venham de fora. Era minha concha, minha carapaça, minha crisálida com cara de palhaço. E eu era um Louva a Deus ateu, esperando a decapitação pós-coito que nunca virá.

Doutor, eu odeio o dia dos namorados.