31.10.07

Anos Vazios

Doutor,

Ele é daquele tipo de cara sobre o qual você ouve falar por aí. Do tipo que abandona a família por um motivo qualquer. É triste, mas a verdade é que nenhum dos dois percebeu os sinais. E ele nunca disse uma palavra, pois não poderia deixar para outro dia.

- Leve-me em direção à praia - ele disse. - Enterre-me na areia. Conduza-me sobre a água. E talvez você compreenda.

Tomei o último gole e pedi mais uma dose antes de continuar.

- Sabe, cara, uma vez que a pedra sob a qual você está rastejando for retirada de cima de seus ombros e a nuvem preta sobre você desaparecer, o barulho que você ouvirá será o desmoronar destes anos vazios.

Levou um tempo até ele digerir a informação. Mas o fez. Rapaz esperto.

- Ela não é uma tipo de garota sobre a qual você ouve falar. Ela nunca... nunca desejará outro. E nunca estará sozinha. Ela mostrará a você todos os sinais e lhe contará tudo. E então virará as costas e irá embora.

Eu não tinha mais o que dizer então me calei, deixando-o lá com aquelas dúvidas corrosivas. Não havia nada que eu pudesse fazer para ajudá-lo. Pois eu o compreendia mais do que gostaria de assumir. Mas eventualmente eu virei as costas e fui embora.

Não entendeu, doutor? Tudo bem, não era para você entender mesmo.

Mas eu espero que ela compreenda.