4.10.05

Hein?

Doutor,

hoje acordei feliz. Saltei da cama, lavei o rosto e sorri para meu reflexo. Saltitei até a cozinha e preparei um café da manhã reforçado. Tomei um banho demorado, me troquei e fui trabalhar. No trânsito nem me preocupei com a morosidade. Ouvi música e até cantarolei. Cumprimentei o porteiro do edifício, e subi até o escritório. Chegando lá distribuí bom dias e tomei um café solúvel sem reclamar do gosto.

Quando sentei na frente do computador, senti vontade de escrever um poema. Escrevi, reli e adorei. Era bonito, era engrandecedor, tinha uma mensagem otimista. Trabalhei cantarolando hits dos anos 80, e quando acabou o expediente vim para casa. Não conseguia entender aquela alegria toda! Como eu, justo eu!, poderia estar tão feliz?

Só realmente compreendi pouco antes da hora de dormir (ou seja, há 15 minutos). Foi quando eu peguei a caixa com os remédios tarja preta que você me prescreve toda vez. Tinha uma novidade lá. Uma caixinha linda, com letras azuis bonitas sobre um fundo amarelo claro. Era o remédio novo que você tinha me receitado.

Agora estou aqui, me recusando a ir dormir até o efeito passar. Porque ele vai passar. E quando acontecer, Doutor, me aguarde. Vou até aí e cubro você de beijos... quero dizer, de murros! Sufoco você em uma pilha de ursinhos de pelúcia fofinhos... quero dizer, num monte de cocô! Quero dizer, MERDA! Ai, que horror...

Pra você aprender a não me usar de cobaia pra esses anti-depressivos novos, seu safadinho! Quero dizer, deu filho duma... Ah, deixa pra lá, que agora está passando uma reprise de Friends, e eu não posso perder!

Ou seja, provei da sua alegria e não gostei. Quero dizer, gostei. Só não gostei do que virei. Ou gostei?

BOSTA!

Ai, que horror...