8.2.06

Quando o Mundo perdeu o senso de humor

José (olhando para o berço): Bem que ele é forte e saudável. Pena que só vá viver 33 anos.
Maria (suspirando): É, mas para um palestino até que não está mal.


Doutor,

o que acontece com o mundo ultimamente? Sabemos que algo está muito errado quando vemos que uma piada infeliz pode se tornar o estopim de uma guerra que vem fermentado há décadas, tornando o que sempre foi encarado pelo Ocidente como algo que arrancava suspiros de "É triste, mas fazer o que?" em um conflito mundial em nome de uma salada cujos ingredientes ainda são pouco claros: petróleo, estratégia, conquista, fé, posse, orgulho, preconceito, etc, tudo misturado e sem nenhum deles se sobressaindo.



Tudo começou com uma charge? Não. Com a seqüência interminável de atentados suicidas? Com a invasão dos israelenses na Palestina? Com a campanha de Maomé pelo Oriente Médio? Pela morte de Jesus? Pela invasão romana? Não. Aliás, se fosse feita uma enquete na região, a resposta absoluta seria um infantilóide "Foi ele quem começou!". Começou exatamente o que ninguém sabe direito. O que todos sabem é que, independente da fé, precisam seguir cegamente a lei do "Olho por olho, dente por dente". O resto é semântica.



A questão é que há muito tempo os humoristas são as vozes da razão em meio à insanidade vigente. São eles os responsáveis, com sua análise crítica, à reflexão a respeito dos acontecimentos. E isso desde antes da humanidade aprender a escrever! É justo crucificar um país por causa de uma charge ofensiva? Até que ponto o respeito à fé é mais importante que o respeito à liberdade de expressão? É nesta "zona cinza" que o problema se instalou, e, confesso, não há resposta fácil.



O problema é mexer no vespeiro. Com todo respeito à comunidade muçulmana, mas as charges podem até ser ofensivas (e realmente o são!), mas olhem para seus próprios umbigos e vejam a propaganda que os mais fanáticos de vocês estão disseminando há décadas. É ofensivo retratar Maomé com uma bomba no turbante, mas não ver uma mãe idolatrar um filho que se explodiu em um mercado, matando duas dúzias de inocentes no processo? Não julgo dogmas ou preceitos baseados em fé, e tampouco acho que os israelenses são santos (muito pelo contrário). O caso é: não é uma manobra muito baixa utilizar o humor como o estopim de uma guerra?



Talvez estejamos chegando ao ponto culminante deste longo conflito. Joguemos no ralo tentativas de acordo e tratados de paz. Já que não tem jeito, que se exploda! Talvez seja até bom. Que nem quando vemos dois moleques se xingando no colégio. Chega uma hora que torra o saco aquele zero-a-zero e a gente quer mais é ver porrada. Resolve de uma vez, cacete!



Guerra Mundial? Que seja. Hecatombe Nuclear? Fazer o que? Genocídio, milhões de mortos, países dizimados, inocentes chacinados, sangue tingindo as ruas e as casas... Por mais que tentemos achar uma solução, cada vez mais caminhamos para o inevitável. Chame-me de apocalíptico se quiser, doutor, mas eu acho que está na hora do bicho pegar. E o maior sinal disso é que o mundo está perdendo seu senso de humor. E sem isso, de que vale continuar lutando contra a maré? Desce a bomba!



Pelo jeito, desta vez a Montanha foi à Maomé. Agora agüenta, Montanha!