Doutor,
sou corintiano. Assumo.
Tá, e daí, você me pergunta? Bom, em primeiro lugar porque realmente gosto de sofrer. Muito. E não tem time melhor que esse pra sofrer. Por quê? Bom, eu poderia torcer pra Portuguesa, XV de Piracicaba, etc, mas esses times não tem a menor chance de ganhar nada. O Corinthians tem. E cada vez que toma um chocolate desses, o corintiano sofre por dentro. E eu curto isso.
Deixa eu explicar, que não está muito claro: odeio futebol. Não vejo a menor graça em assistir 22 marmanjos iletrados correndo atrás de uma bola (nem vou mencionar o quanto eles ganham, que daí minha raiva me impossibilitaria de escrever essas linhas). Acho um jogo besta. Não me dá o menor tesão perder duas horas assistindo isso.
Mas confesso ser corintiano.
Não por obrigação social. Torcer para algum time já quase faz parte do RG: Zebedeu, 32, paulistano, corintiano, macumbeiro, etc. Mas eu não me declaro corintiano por essa razão, mas por uma constatação simples: odeio corintiano. Odeio ver aquela corja barulhenta pulando que nem macacos (sem preconceito aos macacos, bem entendido) e gritando que nem uns trogloditas protegendo uma poça d'água barrenta. São fanáticos cegos e ignorantes (pleonasmo?), sem a menor idéia do que os move em sua paixão.
Primeiro, torcedor em geral é chato. São uma cambada de frustrados sem vida própria, gozando com o pau dos outros. Que adianta em minha vida saber qual era o ataque do Íbis em 1943? Ou saber narrar todos os gols do João Melancia? Ou gastar dinheiro com o DVD "Pelé Eterno"?
É paixão, sem maiores explicações. Em meu último texto falei sobre a mistificação do sexo. Pois bem, o sexo até fica mais fácil de compreender em comparação à mistificação do futebol, seja aqui, país miserável sem outra válvula de escape para as massas, seja na rica Europa, com seus Hooligans e outros malucos. É uma paixão absurdamente absurda, que chega a ser até... interessante?
Sei que já devem existir estudos sociológicos a respeito, e não estou interessado. Sou um egocêntrico, não quero saber da opinião alheia. Formulo a minha, e foda-se.
Dentre os torcedores brasileiros, o corintiano se destaca. Ele é o que mais sofre. O que mais chora. É o que mais mata e morre pelo time. Dois exemplos:
- O cara que foi flagrado pela TV no alambrado do jogo de ontem, gritando: "Tira o curíntcha daí! Não faz isso com o curíntcha!", e que continuou a ladainha mesmo sob borrachadas impiedosas da polícia.
- Aqui no trampo tem um cara que é o típico corintiano. Até com jaqueta e gorro com o símbolo ele vem trabalhar. Fala um português risível, daqueles de fariam o Pasquale se enforcar numa corda metafórica. Pois bem, ele NESTE EXATO MOMENTO está chorando como uma menina no banheiro, depois de ouvir as brincadeiras impiedosas dos colegas. Se continuarem, não duvido que ele arrume uma arma e saia atirando em todo mundo. Ia ser legal.
Não é fascinante? O primeiro eu não sei, mas o segundo é casado, pai de família, tem carreira e outros interesses, e sofre como se tivesse perdido um parente depois de uma derrota sem a menor importância! Isso é maravilhoso em sua obscuridade! Acho que se alguém perguntar por que ele está chorando daquele jeito, nem ele saberá explicar! É algo tão bizarro, tão fantasticamente irreal, que é impossível não se comover!
E é por isso que me digo corintiano. Por odiar e admirar os corintianos desta maneira. Que outro time poderia me trazer tamanha contradição? Que outro time consegue despertar tanto amor e tanto ódio?
Doutor, que time é teu?
9.5.05
5 contra 1 (E não é bronha!)
Esporrado por Zebedeu às 08:18
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