Doutor,
hoje quero falar de sexo. Não com você, bem entendido. Mas de relações sexuais consensuais entre seres humanos.
Por que damos tanto valor a ele? Sério, pensando friamente. O que há de tão importante na troca de fluidos corporais por vezes nojentos (nada tira da minha cabeça que a porra não passa de catarro do pau). Que merda de vida é essa que levamos onde o ato mecânico e hidráulico entre dois adultos pelados é tão valorizado, sendo que a metade da população passa pelo menos metade da vida perseguindo isso, e a outra metade falando a respeito?
É só ver a profusão de programas a respeito que pululaam na televisão. Não, não acredito que esses programas tenham aparecido porque estamos fazendo mais sexo, ou que a coisa tenha liberado de vez. Acho que é um fenômeno exclusivo da mídia, que de uns tempos pra cá está experimentando uma liberdade que desde a queda da ditadura eles tinham certo receio que usar, seja por medo, seja pela influência retrógrada de nossos brothers republicanos e reacionários.
O caso é: se fala muito a respeito de algo básico. Fora bactérias, protozoários, bacilos e algumas criaturas hermafroditas, TODO MUNDO faz sexo! E quando digo todo mundo, é TODO MUNDO mesmo! Acho que existem criaturas que nascem sem saber direito o que está acontecendo, mas uma coisa elas sabem por instinto: é melhor trepar muito, ou então sua espécie pode se extinguir.
No caso dos animais não-humanos, é válido que eles pensem assim. O macho-padrão tem como função espalhar seus genes o máximo possível, pois é a única maneira de evitar a extinção: fazer mais filhos do que os predadores consigam devorar. Mas e os animais-humanos? Nós, em teoria, já passamos dessa fase há algum tempo. Com exceção de alguns grupos religiosos fanáticos, não fazemos sexo apenas para procriação. O lance é diversão pura e simples. Que nem se lambuzar de sorvete um dia quente, ou peidar na almofada do sofá.
Então por que a gente complica tanto?
O sexo ficou tão valorizado que as mulheres já descobriram que podem utilizá-lo como moeda de troca. Pode perceber: mulher não abre as pernas antes de ser cortejada, seduzida, convencida que você vale a pena. E os homens, babacas que são, caem no jogo. Compram flores, presentes, jantares caros, falam palavras doces e declamam versos. Tudo isso pra poder preencher a cavidade pubiana delas.
Cansa, doutor. Se você reunisse um grupo de mil homens, e perguntasse se eles REALMENTE preferem passar por toda essa "entrevista", te garanto que pelo menos 90% prefeririam pular pro básico: "Oi, meu nome é Fulano. Quer dar uma trepadinha sem compromisso?", e receber de resposta um mero "Topo!", ou até mesmo um "Oba!". Sem poesia, sem luz de velas, sem gastar uma fortuna.
Um cara aqui do escritório está beirando os quarenta, e sempre que alguém pergunta quando ele vai casar ele responde: "Pra quê? Pago uma puta por semana, e é muito mais barato e divertido que casar!"
Doutor, ele está certíssimo em sua lógica chauvinista! Ele virou o jogo. Colocou o sexo no seu devido lugar, como um commoditie a ser aproveitado sem culpa, peso na consciência ou conseqüência emocional exagerada. É pinto na buceta, vai e vem, esporrada, e rua! Não tem que pensar muito a respeito. Não tem que analisar, filosofar. Tem que fazer!
Sei que isso pode parecer chocante para um freudiano obcecado pelos peitos de sua mãe como o senhor. Mas talvez eu tenha chegado num ponto de maturidade onde já passei da fase do "Bom mesmo é sexo!" (parafraseando Veríssimo). Talvez eu tenha chegado num nível hormonal tal que o sexo tenha perdido sua importância obscura, e chegado ao patamar de simplicidade que merece, sem mais nem menos importância do que se alimentar ou dormir um pouco.
Ou talvez seja porque eu estou com o pau embutido no saco nessa manhã fria.
2.5.05
Sexo? É bom, mas...
Esporrado por Zebedeu às 07:20
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