18.6.07

A Realidade é como um Crupiê Honesto numa mesa de Craps*

Doutor,

como sempre não vou me desculpar pelo recente sumiço. Por que de repente eu parei de narrar minhas desventuras e pensamentos esparsos? Desculpas haveria de monte: falta de tempo, excesso de trabalho, ausência de assunto, exagero de tédio. Uma autêntica senóide humorística e sem graça. Mas nada disso realmente interessa.

O que deve estar acontecendo, se o doutor me permitir a auto-análise, é que talvez eu já não esteja precisando mais deste espaço tanto quanto antes. Não fique chateado nem peça por abraços afetuosos. Às vezes acontece. Nada disso foi por sua culpa ou mérito. Tampouco dos tarja preta que você tão obsessivamente me receita.

Acontece que mudanças vêm e vão. Hoje já não sinto mais a compulsão de outrora por algo ou alguém que ouvisse as merdas que saem de meu cérebro. Por que? Sinceramente: não interessa. Se tudo pode mudar de uma hora para outra? Claro. Somos todos um pouco bipolares. Assiduidade e rotina são para os fracos de espírito e criatividade. Hoje em dia nada me irrita tanto quanto descobrir que não tenho nada para fazer.

Note que utilizei propositalmente o verbo 'irritar' ao invés de 'deprimir'. Isso é evolução? Pode ser. Você julga.

Neste final de semana disse a uma colega que estava brava por conta de uma briga com o namorado que a raiva é melhor que a tristeza, pois a raiva simboliza uma reação, mesmo que inócua, contra o que incomoda. A depressão, por sua vez, é um atestado de derrota espiritual. Mal sabia eu que aquela pequena epifania era bem melhor direcionada a mim do que a ela. Mas acabou valendo pelo abraço de retribuição.

Não, isso não quer dizer que minha situação melhorou. Pelo contrário. O que mudou foi que simplesmente cansei de ficar lamuriando e parti para a luta. Se vai dar certo? Não sei. Mas prefiro quebrar a cara lutando do que encolhido num canto chorando como uma menininha magoada.

Fique tranqüilo, doutor. Você não perdeu seu paciente menos predileto.

Não ainda.

* Para os imbecis que não compreenderam a analogia, a resposta é 'Imprevisível'.