1.4.08

Tragédia?

Doutor,

eu fiz tudo certo. Fiz sim. Fiz do jeito que você disse. E foi do jeito que você disse. Libertei minha psique dos grilhões, por mais cafona que possa parecer. Estou mais leve, mais centrado. Agitado ainda, é certo, mas é uma agitação boa, como há muito não sentia. Adrenalina e endorfina. O drinque dos deuses. O veneno de Phobos.

O medo acabou.

Fiz tudo certo. Tudo direitinho. Segui-a depois do trabalho. Ela nem me percebeu. Ela nunca me percebeu. Segui-a até o metrô. Entrei no vagão incógnito como o resto. Mais um rosto cinza, por mais que eu teimasse em não parar de suar, mesmo sob o forte ar-condicionado. Ela ficou lá, segurando a barra de aço com dedos murchos. Imaginei-a batendo uma punheta com aqueles dedinhos frouxos. Imaginei que deveria ser semelhante a receber um boquete de uma mendiga desdentada. A boca ruminava um chiclete. Os olhos tontos meio chapados davam a ela um ar de retardada. Mas eu sabia que ela não era de retardada. Estava só se fazendo. Estava só atraindo.

Claro que não demorou. Um pedreiro, peão, sei lá, chegou perto e, com a discrição de uma jaca num sushi-bar, começou a esfregar-se em sua bunda perfeitamente confinada pelo jeans. Ela se virou, fazendo ar de indignada, e se afastou. O peão também, resmungando. Puta. Piranha. Vagabunda. Instiga e depois esnoba. Vaca.

Continuei seguindo-a quando ela saiu do vagão. Quase a perco no tumulto da estação. Na rua a tarefa era mais difícil, mas consegui não ser descoberto. Ela chegou em sua casa, abriu o portão e entrou. Eu fiquei lá. Sabia que ela não morava sozinha. Rádio peão. Em poucos minutos sua colega de quarto iria embora, trabalhar ou numa loja de conveniência ou num puteiro. Só alguns minutos. O tempo exato para bolar um plano de invasão.

No final foi mais simples que eu imaginava. A colega saiu e não trancou a porta. Só bastou esperar a luz do banheiro acender para entrar. Corri, ouvindo a sua cantoria de harpia no banheiro. Entrei em seu quarto e travei por um instante, incerto do que estava fazendo ali. Ainda tinha volta. Que idéia estúpida! Vai embora, Zebedeu. Ainda dá tempo. Sai daí!

Óbvio que, tão centrado estava em minhas dúvidas que não percebi que ela tinha terminado seu banho. Só me toquei quando ouvi a cantilena mais e mais alta no corredor. E como o pânico geralmente atrai clichês, corri e me escondi no armário. Pela fresta a vi entrar no quarto, nua, a toalha enrolada na cabeça. Linda, linda, perfeita em cada curva, cada desenho em sua pele. Notei com prazer que ela tinha os convenientes apoios para polegares em suas costas. Sabe? Aquelas pequenas depressões gêmeas na base das costas, logo acima das nádegas, que apenas as mulheres mais deliciosas têm? Apenas as mulheres anatomicamente perfeitas para serem enrabadas? Seria uma pena, um desperdício...

Enquanto ela se ajeitava, ainda nua, na banqueta em frente a uma antiga penteadeira, eu me despia, controlando-me ao máximo para não fazer barulho. Agora não tinha mais volta. Ela passava cremes e mais cremes no rosto. Alguns no corpo. Deu para ver sua pele se arrepiar mais de uma vez. Era quase uma masturbação. Uma masturbação que beirava o auto-lesbianismo. Uma ninfa narcisística. Que infelizmente foi interrompida por seu celular estridente (alguma música techno-trance-qualquer-merda-dessas). Atendeu. Alôs, gritinhos e gracinhas. Putinha. Vaquinha. Piranhinha. Comecei a tremer. Segurar o cabo da faca ajudou. Ela continuava fofocando no telefone. Fofocando do mesmo modo que fofocava no escritório. No almoço. Toda hora. Fofoqueira de merda.

- Quem? O Zebedeu? Aquele estranho da área de... Nãããããããooooo, menina! Aquele é uma bicha. Não pega ninguém, não. Claro que falo! Tá protegendo por que? Nada. Se não for bicha é brocha, o que no final das contas dá no mesmo, né? Hahahahahahahaha. Você não existe...

Chutei a porta e finalmente saí do armário. Nu. De faca em punho. Ela gritou, arremessando o celular no susto, que quicou duas vezes antes de pousar perto de meu pé direito. Peguei-o e li o nome na tela. Próximo alvo. Desliguei a ligação e arremessei o aparelho pra longe. Ela já choramingava e escondia a nudez pateticamente. Perguntou alguma coisa, xingou algumas vezes. Berrou, pediu ajuda, desculpas, piedade. Arrastou-se perto de mim e ameaçou abocanhar meu pau em riste. Uma bofetada a fez mudar de idéia. Pânico. Gostei. Se arrastou para longe. Segui-a lentamente, tal qual um monstro de um filme B. Funciona. Por mais que ela se esforçasse, apenas dois passos meus já a deixavam sob meu alcance novamente. Não a deixei chegar ao corredor. Puxei-a pelos cabelos e, com um corte limpo, abri sua garganta de lado a lado. Uma nova boca que, quiçá, vai expelir menos merda. Um pouco mais de sangue, é certo, mas menos merda. Ela gargarejou e se retorceu. O grito já nasceu afogado. Ninguém para te ouvir, lindinha. Ninguém para testemunhar seus estertores além de mim. E eu os testemunho com gosto, até o último espasmo. Morta.

Mas não acabada.

Ajeitei seu corpo o melhor que pude. Abri suas pernas e vi por alguns minutos seu sexo. Uma bela boceta, lábios gordos, depiladinha, mas completamente seca. Árida. Puxei um escarro das entranhas e cuspi em cima dela. Cuspi também em meu próprio pau. Em seguida penetrei. Doeu pra burro, mas não parei por causa disso. Meti, fodi e trepei até quase gozar. Daí saí de cima dela. Coloquei em sua boca e finalmente me aliviei. Seus lábios inertes sorveram com cuidado cada gota. Levantei-me, peguei minhas roupas, me vesti e fui embora. Sorridente. Feliz. Realizado.

Desenrustido.

Finalmente.

Uma data a ser comemorada.

Doutor, que dia é hoje?