15.8.05

Esperança

s. f., ato de esperar;
tendência do espírito para considerar como provável a realização do que se deseja;
a segunda das virtudes teologais;
o que se espera;
expectativa;
suposição;
probabilidade;
Zool., inseto ortóptero locustídeo de cor verde;
estar de -: estar no período de gravidez;
dar -s: dar mostras de vir a ser distinto em alguma coisa.


Tá, e daí, você me pergunta, doutor. Bom, sinceramente, não sei.

Não sei o que esperar mais da vida.

Quando a gente entra numa certa idade, já sabe que a partir dalí é ladeira abaixo, como uma montanha russa cujo final é uma barreira de explosivos. É uma metáfora idiota e batida, mas nada se aproxima mais da verdade. Levamos anos para chegar ao topo, o vagão fazendo tlec-tlec-tlec, e a gente com um sorriso bestalhão de espectativa na cara, pois nos dizem durante toda a subida que quando chegarmos ao topo tudo será melhor, diferente. Pois bem, eu cheguei ao topo, e sinceramente não gostei nada do que vi. E garanto que 99% das pessoas igualmente não apreciam, apesar de que destas, 90% esboçam um sorriso amarelado, e não perdem a tal da "esperança", mesmo sabendo que em momentos os trilhos entrarão em uma rota descendente vertiginosa, e tudo o que eles fizeram pra chegar até ali será esquecido numa fração de momento.

A cada ano os anos passam mais rápido. Já elaborei uma teoria a esse respeito (eu elaboro teorias demais): quando temos 2 anos, 1 ano é a metade de nossa vida. Quanto temos 10, a proporção já é de um décimo. Aos trinta, um ano não passa de 0,033333335 de vida. E contando. Entramos na fase dos anos dizimados.

Nunca vou ganhar um Nobel por essa teoria de merda.

É isso que eu percebi. Que quando chegamos ao topo e não achamos nada, perdemos a esperança. Eu cheguei ao meu topo. Daqui pra frente, nada mais. Não vou ficar rico, a não ser que eu ganhe na loteria, mas sou muito alto para isso. Não vou encontrar o amor da minha vida, pois ela já deve ter perdido a paciência de esperar que eu aparecesse e já está fodendo com outro. Sexo, a partir de agora, só por pena ou com prejuízo monetário. Filhos? Pra quê? Por que eu seria tão calhorda ao ponto de jogar mais inocentes nessa montanha russa sem sentido? Aliás, qual o sentido de uma montanha russa?

Não. Acabou. No meu caso, a esperança não é mais o que o dicionário prescreve.

Tirando, é claro, o inseto ortóptero locustídeo de cor verde, que deve ser massa.

Queria esmagar um desses com uma sandália havaiana surrada. E cuspir em cima do exoesqueleto.

E daí sairia na janela e gritaria: "Eu matei a porra da esperança que invadiu meu quarto!"

Deixaria o cadáver no batente da janela.

Como um aviso para que outras esperanças nem ousem se aproximar de minha vida.

Doutor, se vier com papinhos consolatórios e positivistas, solto um arroto de feijão no seu nariz e um peido quente no seu divã.