22.1.08

Imaturo

Doutor,

sou assim. Sou do jeito que me vendem. Sou uma besta para muitos. Cativante para poucos. Amargo por vocação e solitário por opção. Bagunçado, desorganizado, escrachado. Bebo demais. Uso drogas por prazer. Tomo tarja preta sem receita. Durmo pouco. Trepo com ou sem amor. Não faço distinção. Mas sempre com paixão. Pois não sou burocrático. Sou cínico. Revoltado. Sacrílego. Escroto.

Maldito.

Me apaixono estupidamente fácil. E sigo em frente mais fácil ainda, mesmo com a ferida aberta sangrando e expondo minhas entranhas ainda esfaceladas. Uma hemorragia ambulante. Mas com a cabeça erguida. Sigo em frente, pronto para a próxima decepção. Para o próximo tombo.

Sou o pesadelo nietzcheano de Jack.

Mas sou assim e quero que se foda a sua opinião. A opinião de qualquer um. Sou uma fuga de mim mesmo. Uma fuga alheia. A saída de emergência que dá invariavelmente num abismo. Há quem caia comigo. Há quem se acovarde com apenas um vislumbre e retorne ao labirinto escuro de sua própria mediocridade auto-infligida. Pouco me importa. Sofro sozinho. Mas livre.

Eu mesmo limpo minhas lágrimas, obrigado.

Limpo-as com o sangue que escorre de minhas mãos. E com um sorriso macabro estampado na face. Sem olhar pra trás. Sem arrependimento.

Por que, você me questiona?

Porque sou imaturo.

Voluntariamente imaturo.

E é assim que persevero.

Assim que sou.

Quem quiser que me compre.

Só não me alugue.

Isso nunca.