1.9.05

A Puta da Vida

Doutor,

eu estava num bar perto de casa, enrolando numa cerveja de pobre e contando rachaduras do balcão, quando ouvi uma voz:

- Oi?

Era uma mulher. Maquiada. Decotada. Aloirada.

- Hrmmm?

- Posso sentar do teu lado?

Minha resposta foi uma bicada na minha cerveja morna.

Ela sentou.

- Tudo bem?

- Tava ótimo. Agora não sei.

- Me paga uma bebida?

- Não tenho nem pra pagar a minha direito. Se vira.

Ela pediu uma coca light.

- Tá sozinho?

- Infelizmente, não mais.

Aí eu me liguei.

- Você tá me cantando?

- Hum-hum...

- Ou você é louca, ou é puta.

- Não sou louca...

- Caralho...

- Não tá a fim de companhia?

- Não. Tô duro.

- Essa é a idéia.

Os nós dos meus dedos esbranquiçados de tanto apertar aquele pescoço curto...

- A gente podia ir pra um lugar mais calmo, se conhecer melhor.

- Quanto?

- Hein?

- Ô cretina, quanto é?

- Duzentos, mas pra você faço por cento e cinqüenta.

- Prefiro bater uma punheta pra um cadáver.

- Posso me fingir de morta, se é o que você curte.

Com uma faca cega eu abro os pontos macios daquela pele, e me lambuzo com sangue venal...

- A noite tá fraca, é? Vai encher o saco de outro, piranha do caralho.

- Hum, gosta de falar palavrão? Eu também gosto...

- Vai tomar no cu.

- Aí é mais caro.

Com a faca afiada eu tiro a pele de seu rosto, e visto-a no meu como uma máscara. Obrigo-a a ver-se como uma criatura de fim de festa de carnaval...

- Sabe, eu gostei de você. Se for bonzinho, posso fazer até por cem.

- Ai meu saco.

- Chupo tuas bolas, também. E engulo tua porra.

Ela engasga com sangue e esperma. Aproveito e cago na sua boca. Ela chora. Sangue...

- Se você fosse esperta, ia procurar alguém que te queira. Eu tô fora.

- Não sou bonita?

- Parece que pegou fogo e apagaram na tamancada. Mas já comi coisa pior.

- Tenho uma amiga que ia topar fazer um bem bolado.

- Ô puta estúpida! Não tenho dinheiro pra uma, quanto mais pra duas! Vai se foder.

- Prefiro você.

Quebro a janela, jogo os cacos em cima do colchão, deito ela de bruços em cima, e fodo seu cu com um cabo de vassoura...

- Não te comeria nem de graça. Sai fora.

- Você tá de pau duro?

Duro, forte rijo e pulsante. Como nunca esteve antes. Dói.

- Some, ô vagaba de quinta! Caralho, a gente não pode nem beber em paz? Vai te foder!

- Você tá a fim, que eu sei. Vamo lá...

Deixo ela deitada no próprio sangue um dia inteiro. Depois lambo suas feridas coaguladas e purulentas. Bato uma punheta e esporro na tua cara deformada...

- Não.

- Quer ver meus peitinhos?

- Quero, mas não vou pagar nada por isso.

- É cortesia. Olha.

- Feio. Caído. Estrábico. Mamilos nojentos. Estrias nojentas.

- Você também não é nenhum Brad Pitt.

- E você não é ninguém. É menos que ninguém. Nem me disse teu nome.

- É Jennyfer. Com Y.

Que nem o corte do legista no teu tórax.

Levantei.

- Onde você vai?

- Embora. Não transo pseudônimo.

Antes de sair, ainda ouvi ela dizer: "Pisseudômino? Isso eu nunca fiz."

Agora esqueçamos o que deveria ter sido, e vamos aos fatos.

A mesma cena. Eu no bar. Cigarro com gosto de esterco. Cerveja pior que mijo.

- Ei, bonitão, tá a fim de um programa?

Sacudo a cabeça de um lado para o outro e estico o polegar apontado pra baixo.

- Tomar no cu, só tem duro nessa merda?

E foi embora.

Doutor, a vida seria muito mais interessante se tivesse roteiro pré estabelecido.