Doutor,
o que o senhor faria se descobrisse que, de alguma maneira, eu venho roubando seu dinheiro? Diretamente de sua carteira, na maior caruda.
Ou então utilizando seus serviços como maneira de justificar algum golpe em uma seguradora, adulterando suas notas para conseguir um reembolso maior?
Ou que eu bolei um esquema para que seus pacientes se beneficiassem de alguma maneira monetária de suas consultas, ficando com uma parte dos ganhos "por fora"?
Você chamaria a polícia, não é? E eu seria imediatamente preso. Poderia até rolar um julgamento, caso você não conseguisse um flagrante, mas no final eu teria que ressarci-lo de seu prejuízo e em seguida passar alguns dias sendo currado pelo Mano Pé-De-Mesa no Cadeião de Pinheiros.
Agora, imagine que num lapso estranho você tenha de algum modo me contratado para trabalhar em seu consultório (calma, é apenas hipotético) e descobrisse que desde que eu fui contratado eu usei o nome de sua empresa para retirar lucro em transações escusas. Tipo, vendendo remédios tarja preta para drogados, que eu consegui negociando parcerias com fornecedores. Parcerias que nunca se realizaram, mas que garantiam uma cota de "amostras grátis" semanal. O que o senhor faria? Me despediria por justa causa, e de novo chamaria a polícia. E eu seria preso e nunca mais conseguiria um emprego decente em minha vida. Literalmente viraria mendigo.
Bom, todo esse lance acima foi para fazer uma analogia com a papagaiada que acontece no congresso nacional desde que me conheço por gente. A cassação do Zé Dirceu ontem foi apenas mais um dos atos dessa tragédia interminável que é nosso governo. Acompanhei o ritual de cassação do começo ao fim, como se fosse o penúltimo capítulo de uma novela ruim. Assisti cada discurso, até mesmo o apaixonado do réu, que mais serviu como um canto do cisne do que como defesa efetiva.
No final, prevaleceu a opinião pública, que só é consultada quando convém, e ele foi cassado. Oito anos inelegível. Alguns no congresso comemoraram como se fosse final de copa do mundo. Outros ficaram deprimidos por terem cortado na própria carne. O povo exultou: "Mais bengaladas!". E o recém-caudilho-ex-bolchevique-de-cavanhaque saiu do palco, derrotado.
O que eu achei desse teatro todo? Foi pouco. Muito pouco. Porque diferente de um funcionário qualquer pego roubando, ele foi demitido e voltou pra casa, pra família, para umas férias de oito anos, bobear remuneradas. Não teve cadeia. Não teve algema. Não teve calça bege e camiseta branca. Não teve curra do Mano Pé-De-Mesa.
"Ah, mas são coisas diferentes", você me diz, e eu concordo plenamente. É muito pior no caso deles. Pois eles estão lá num cargo de confiança do povo. É, de nós, os babacas, o gado, a massa ignorante. Nós confiamos nesses merdas para gerenciar nosso país. Nós demos a eles o poder para fazer a diferença. E quando os pegamos abusando desta confiança não queremos que eles levem um tapinha na mão e pronto. Queremos que eles sofram no mínimo o mesmo que nós, anônimos idiotas. Queremos que eles tenham suas vidas arrasadas, devastadas, humilhadas. Que devolvam todo o dinheiro. Cada centavo. Que sofram com fome, dívidas e nome sujo na praça, incapazes de fazer um crediário de um microondas nas Casas Bahia. Que passem frio na fila do INSS. Que vejam sua aposentadoria ser retalhada. Que paguem por seus crimes com penas coerentes. Pois nós, quando escorregamos, comumente pagamos com juros excessivos. Que vantagem eles tem sobre nós?
O senhor conhece a teoria do Canibalismo Compulsório? É assim: se cada pessoa fosse obrigada a comer o que mata, os assassinatos diminuiriam bastante. Pois obriguemos eles a comerem a merda que semearam! Façamos da vida deles um inferno. Tragam eles para o nosso lado, e deixem-nos viver o resto da vida como um proletário com salário minguado. Isso sim é uma punição exemplar. Garanto que esses filhos da puta pensariam mais de cem vezes antes de armar mais um golpe.
Tapinha na mão não educa nem moleque de 5 anos. Tem que enfiar um braço no cu deles. Temos que fazer esses cretinos terem medo da gente. Sem bengaladas ou caras-pintadas que isso é piada jornalística. Temos que deixar bem claro que esses filhos da puta são nossos funcionários, e que se eles vacilarem a gente acaba com a vida deles. É o nosso dinheiro que eles estão brincando. Nosso! Sem desculpas malufistas de "rouba mas faz". Faça sem roubar! É para isso que você foi eleito e é pornograficamente bem pago! Então faça direito, ou então nós fodemos sua vida literalmente de verde e amarelo!
Democracia só funciona quando o governo tem medo do povo. Chega de sermos cordeiros ou psicopatas enrustidos. Chega de retóricas panfletárias. Chega de frases de ordem em cima de caminhões na frente de fábricas. Chega de papo. Tropeçou a gente chuta a cabeça. Vacilou a gente enfia uma faca nas tripas. Mexeu no meu, o pau comeu!
Aí quem sabe essa merda não anda?
1.12.05
Analogias Deputáticas
Esporrado por Zebedeu às 09:03
Assinar:
Comment Feed (RSS)
|